O INVENTOR DO CAFE
O INVENTOR DO CAFÉ
Depois de tomar gostosa caneca
De café, interrogava Maneca:
Quem é que inventou bebida tão boa
Que, de manhãzinha, mãezinha coa?
Dá melhor sabor ao pão com manteiga,
Realça a torrada crocante, meiga,
Adoça ainda mais o pão com mel!
Invento de ganhar Prêmio Nobel!
Eis o que propõe tio Adamastor:
Pesquisa-se quem foi o inventor.
Será que a História registou seu nome
Ou o perdeu no tempo que carcome
Memória, sem sequer deixar vestígio,
Olvidando-se o autor de tal prodígio?
Adamastor e sobrinho Maneca
(Dois ratos a roer em biblioteca)
Roeram e roeram alfarrábios,
Aprendendo de tudo. Quase sábios
E doutos... mas, do café, nada!
Não havia prova documentada.
Mas, mesmo não havendo documento,
Foi fácil superar o esquecimento,
Por um feliz achado do Maneca
Que se abraçou ao tio, gritando eureca!
Achei, meu tio, e nada tem de novo
O que eu achei! Achei na voz do povo.
Voz que vem lá de longe, do passado,
Mas actualiza sempre o seu recado.
Onde a história não chega, chega a lenda.
A lenda, afinal, é que nos desvenda
E vai contando, tim-tim-por-tim-tim,
Saga de Xadi, do princípio ao fim.
Comecemos, leitor, pelo começo,
Cuidando de lançar bom arremesso
Firme nos pés para não tropeçar
Bem, vamos ou não vamos começar?
Capital da Argélia, chamada Argel,
Erige o palco do nosso cordel
E Xadi é personagem principal.
Menino bom, distingue o bem do mal.
Defeito? Só um: não quer estudar.
Do que é que ele gosta? De duelar.
Assim, o vemos, na primeira cena,
Em duelos de espada sarracena.
Todo o dia, o pai o admoesta:
Xadi, é pouco estudo e muita festa!
O pai, que é homem de sábia docência,
Zanga-se muito; já não tem paciência.
É médico e, em altíssimo desvelo,
Sonhava ver Xadi a sucedê-lo,
Como ele sucedeu ao próprio pai
Que sucedeu ao pai do pai, do pai...
Um doutor, dois doutores, quantos mais
Na longa lista de seus ancestrais.
Medicina não quero, mas ventura
De viver plenamente em aventura.
O pai não hesitou em castigá-lo.
Xadi não esperou cantar o galo.
Para não ser assim tão castigado
Fugiu, não disse adeus, nem obrigado.
Viveu de peripécia em peripécia
Que lhe deram cartaz até na Grécia.
Uma viveu, quando caravaneiro
(Outro não havia mais altaneiro)
Teve de conduzir uma princesa,
A mais linda de toda a redondeza.
Nas infindas areias do deserto,
A caravana busca o rumo certo.
Apesar de mil-e-uma precauções
Não deixou de atrair más intenções
De um bando de ferozes assaltantes
Com seus brados de guerra altissonantes:
O troféu é o manto da donzela!
Xadi, mais lépido do que gazela,
Derrotou um por um dos meliantes
E salvou a princesa em dois instantes,
Sob forte aplauso dos caravaneiros,
Orgulhosos de serem seus parceiros.
O sultão, ao tomar conhecimento
Da façanha do grande salvamento,
Fez, de Xadi, procurador do erário-
Cargo importante no real cenário.
Cavalgando montado em elefante
Reluzia garbo o comandante.
Feitos de Xadi hoje são lembranças
Nas Oropas, na Bahia e na França.
Em meio a homenagens, rapapés,
Não ligava ter o mundo a seus pés.
Xadi só tinha os olhos para olhar
O olhar da moça preso em seu olhar.
A inveja espreitava os corredores...
E a princesa sentiu sérios temores:
Temia ver Xadi ser condenado
À morte, por ambos terem pecado.
Peço, por Deus, amor, não se arrisque...
Cuidado, que há muito diz-que-diz-que!
O que tens a fazer, Xadi? Fugir.
A tua morte estão a exigir.
Ele, que se negava a dar anuência,
Relutou, mas rendeu-se à evidência,
Não por si, mas por amor à princesa.
E do palácio saiu à francesa.
Sumiu do mapa, foi para bem longe.
Surgiu o boato que se tornara monge.
Estava era vivendo nas montanhas
Do Iêmem, entre gentes bem estranhas
Que não negaram hospitalidade.
Plantava para vender na cidade.
Criava cabras que produziam leite.
De azeitona, extraía bom azeite.
Só não era feliz, porque sofria
Do mal de amor que nunca se alivia;
Do mal de amor em sofrimento e gozo,
Mal de amor, sofrimento tão gostoso!
Tudo bem, mas um dia adoeceu:
Febre subiu, a vista escureceu.
Não havia médico, nem farmácia.
O que não lhe faltava? Perspicácia!
Perspicácia que lhe deu inspiração
De procurar em meio a plantação
Algo para fazer bebida quente...
Viu madura frutinha, felizmente,
Em arbusto de flores perfumadas
Que lembram o perfume das amadas
Dos poetas, dos homens sonhadores
Que portam ideais nos seus andores...
Do enamorado, que chora no exílio
Dorida saudade do amor caudilho...
E, no meio do desespero, espera
Libertar-se da dor que o encarcera.
Deitou à sombra da árvore, disposto
A morrer por sentir tanto desgosto.
A hora da sua morte ainda tarda-
Falou, dando-lhe pito, o anjo da guarda.
Entregou-se, então, à contemplação,
Não lhe restando qualquer outra opção.
Malgrado ainda esteja bem doente,
Xadi observa, atenciosamente,
Euforia da cabra mais andeja
Depois que se fartava da cereja
Que caía, madura, de um arbusto:
Pulava, saltava, que dava susto!
Xadi ferveu algumas sementinhas
Bebeu a infusão três manhãzinhas.
Recuperado, soube que outras gentes
Também se encontravam muito doentes.
Deu a receita: bebam este licor.
Licor bem preparado com rigor:
Secou a frutinha, torrou, fez pó,
Coou em água fervente... e foi só!
Começou sua fama de doutor
Que se espalhava já por todo o canto:
Doutor, muito mais que doutor, um santo!
Um facto crucial aconteceu:
O irmão da princesa adoeceu.
A mesma febre, o mesmo calafrio,
Dores no corpo, tontura, fastio.
O quadro ameaçava ser fatal:
A peste ronda o palácio real.
O sultão, então, quis ouvir conselho:
Como posso salvar o meu fedelho?
Um sábio da corte, consultado,
Falou assim ao pai sobressaltado:
Só há um homem, um só, que é capaz
De curar de verdade o seu rapaz.
Quem será esse ser tão poderoso?
Pago quanto queira: sou generoso.
Nome dele? Xadi! O teu proscrito.
Xadi!!! Não deixo o dito por não dito.
Que o mandem chamar. Perdoarei tudo.
Dou-lhe honrarias, ganho bem polpudo.
Ele virá, meu pai, já foi chamado.
Tapete voador traz o meu amado.
Ele virá, vai curar o meu irmão.
Em troca, dar-lhe-ás a minha mão.
Casaram... e tiveram descendência.
Vejam quanto valeu a santa essência
Extraída da frutinha vermelha
Que a uma cerejinha se assemelha.
O café, arbusto robusto, altivo,
Passou a ter no mundo o seu cultivo.
Por onde andou o café? De Seca em Meca,
Revelou nosso amiguinho Maneca.
Andou e andou, andou por léguas mil
Até plantar pé firme no Brasil.
Como diz bem o tio Adamastor:
Brasil e café, um caso de amor.
Por falar em amor, ainda resta
Descrever quão grandiosa foi a festa
Do enlace do Xadi com a princesa.
Mago Aladim manteve a luz acesa.
O padrinho foi Harum-Al-Raxide
E não permito que ninguém duvide.
Sorvete, sorvetinho e sorvetão
Não faltaram na festa que o sultão
Serviu aos convidados. Todos feitos
De café, base dos demais confeitos.
Uma torta reinava, soberana,
Preparada pela mão da sultana:
Seguindo receita de velha escrava,
O café ao damasco se mesclava.
Foram sete dias de comilança,
Sete dias de música de dança,
Tomando café, comendo iguarias
De café, sete noites, sete dias.
Acompanhe-se, agora, o doutorado
De Xadi, que resume um bom legado.
Ele, de certa forma intuitiva,
Como se intui em nossa narrativa
Antecipou achados da ciência:
Café será que influi na sonolência?
Conseguia dormir a sono solto
E despertava muito desenvolto
Apesar de, por vezes consumir
Dois cafezinhos antes de dormir.
Facto, hoje, confirmado por doutores:
Café corta mais sono aos fumadores.
Xadi, que não fumava nem bebia
(O que equivale à boa terapia)
Atingiu sadio, idade provecta,
Sem deixar jamais de cumprir a meta
Do pai: ser um médico humanitário,
Feliz, a ministrar receituário.
Fez tudo o que podia e muito mais.
Adeus, herói, muita saúde... e paz!
2 Comments:
ola migo!
que coisinha boa o cafe sem ele eu nao sabia viver
nada como um cafezinho bem quentinho para acordar, muitas vezes val mais do que um beijo de bom dia hahahha
adorei adorei adorei esta super nice
continua que tens ca um jeitao para isto
e ja agora tira ai um cafezinho para a amiga rachael
beijao
Descarados! Com este cheirinho matam-me!
Tanto tempo não faço um esbocinho com café!...
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